A dependência financeira é uma realidade que afeta muitas pessoas ao redor do mundo. Quando combinada com a violência doméstica, a situação torna-se ainda mais complexa e prejudicial.
Neste artigo, compartilho informações sobre essa combinação devastadora que envolve a vulnerabilidade econômica como fator agravante de relacionamento abusivo.
O que é Dependência Financeira?
A dependência financeira é um conceito que vai muito além de uma simples questão de dinheiro.
Ela ocorre quando uma pessoa se encontra em uma posição na qual não possui controle ou autonomia sobre seus recursos financeiros.
Essa falta de independência financeira pode ocorrer em diferentes contextos, incluindo relacionamentos conjugais, familiares ou até mesmo amizades tóxicas.
A dependência financeira engloba diversas facetas:
- Controle Financeiro
Nas relações afetadas por essa dependência, uma das partes exerce um controle financeiro excessivo sobre a outra. - Restrição de Oportunidades
Uma pessoa que sofre de dependência financeira muitas vezes encontra-se impossibilitada de buscar oportunidades educacionais ou de emprego que possam melhorar sua situação financeira. Isso acontece porque o agressor pode desencorajar ou impedir que continue nessa busca pela independência. - Medo e Isolamento
A dependência financeira está frequentemente ligada a um ambiente de medo e isolamento. A vítima pode temer perder o apoio financeiro ou sofrer retaliações caso tente buscar independência. Isso pode criar uma sensação de prisão emocional e financeira.
Cinco mulheres são espancadas a cada dois minutos no Brasil. Em mais de 80% dos casos, o responsável é o marido, o namorado ou o ex-parceiro, que também se aproveitam da dependência financeira da vítima. (fonte: Rádio Senado)
A Ligação com a Violência Doméstica
A dependência financeira acentua a fragilidade da mulher em um relacionamento onde há violência doméstica.
No período pandêmico, um dos grandes impactos do COVID-19 foi o desemprego e a perda do poder aquisitivo.
Pesquisa do Fórum de Brasileiro de Segurança Pública revelou o que já imaginávamos.
Vinte e cinco ( 25%) das mulheres entrevistadas declararam que a perda de renda e emprego foi o que mais influenciou na violência doméstica durante a pandemia.
Veja como a situação pode se agravar de forma considerável:
- Controle Abusivo
O agressor muitas vezes usa o controle financeiro como uma forma de poder e abuso sobre a vítima. Isso pode incluir restrições ao acesso ao dinheiro, impedir que a vítima trabalhe ou mantê-la em uma situação de endividamento constante. O objetivo é manter a vítima presa e sob controle. - Barreiras para Buscar Ajuda
A dependência financeira pode criar barreiras significativas para as vítimas que desejam buscar ajuda. Eles podem temer perder o apoio financeiro ou não ter recursos para sobreviver sem o agressor. Isso pode resultar em um ciclo contínuo de abuso e medo. - Ciclo de Abuso
A dependência financeira pode manter as vítimas presas em um ciclo de abuso, tornando difícil para elas escaparem da situação. A falta de recursos próprios pode parecer uma barreira intransponível. As vítimas sentem-se impotentes e acreditam que não têm alternativa senão podem permanecer em um ambiente prejudicial.
É possível romper o Ciclo Da Dependência Financeira
A boa notícia é que é possível romper o ciclo de dependência financeira e violência doméstica.
No entanto, isso requer coragem, apoio e recursos. Aqui estão algumas etapas essenciais para iniciar esse processo:
- Conheça seus Direitos
Informação é poder. Conheça seus direitos legais, incluindo leis que protegem as vítimas de violência doméstica e seus direitos financeiros. Isso pode variar dependendo de sua localização, mas é crucial entender as opções disponíveis. Procure aconselhamento jurídico se necessário. - Crie um Plano de Segurança
Desenvolva um plano de segurança abrangente que inclua medidas para proteger a si mesmo e, se houver, seus filhos. Isso pode envolver a busca de abrigo seguro, a comunicação com amigos de confiança e o planejamento para uma possível fuga. Ter um plano sólido pode ser fundamental para sua segurança. - Estabeleça uma Rede de Apoio
Converse com amigos e familiares em quem você confia e compartilhe sua situação. Eles podem oferecer apoio emocional, abrigo temporário e, em alguns casos, assistência financeira. Não tenha medo de pedir ajuda; seus entes queridos podem ser recursos valiosos. - Busque Ajuda Profissional
Entre em contato com organizações de apoio às vítimas de violência doméstica. Essas organizações podem fornecer recursos, aconselhamento e encaminhamento para serviços legais. Muitas delas oferecem assistência confidencial e podem ajudar a criar um plano personalizado para sua situação. - Busque Independência Financeira
Se possível, comece a trabalhar ou procure oportunidades de emprego que se adequem à sua situação. Procure ajuda para desenvolver habilidades profissionais e financeiras que o tornem mais independente. Lembre-se de que a independência financeira pode ser um passo crucial para romper o ciclo de dependência. - Proteja-se Legalmente
Considere buscar medidas legais de proteção, como ordens de restrição, se isso for para sua situação. Consulte um advogado especializado em questões de violência doméstica para orientação legal específica.
Auxílio-Aluguel Para Mulheres Vitimas De Violência Doméstica
Um passo à frente nas medidas protetivas de urgência, as brasileiras contam agora com a Lei 14.674, de 2023 que prevê o direito de auxílio-aluguel às mulheres vítimas de violência doméstica.
Essa nova norma é uma alteração da Lei Maria da Penha (Lei 11.340, de 2006).
Com esse avanço na proteção dos direitos das mulheres, a nova lei permite que o auxílio-aluguel seja graduado em função da situação de vulnerabilidade social e econômica da vítima.
Assim, o benefício admite ajustes capazes de garantir no caso concreto a proteção eficaz e integral.
Essa garantia de recursos financeiros, mesmo que temporária, representa uma etapa essencial para que a mulher comece a se libertar do estado de agressão. Uma medida de empoderamento!
Impactos da Violência Doméstica na Parentalidade
A violência doméstica tem um impacto devastador também na parentalidade.
O termo parentalidade envolve a dinâmica de comportamento, cuidado e acompanhamento dos pais com seu filhos.
É inegável que onde haja agressão, os filhos também não sofram.
As vítimas de abuso encontram dificuldades para serem pais ou mães devido ao estresse emocional, físico e psicológico causado pelas agressões.
Além disso, a exposição de crianças à violência doméstica pode ter efeitos traumáticos graves em seu desenvolvimento.
Veja 3 formas pelas quais as crianças vivenciam as agressões:
- presenciam ou ouvem os abusos contra a mãe;
- veem os sinais físicos que ficam no corpo;
- observam as consequências da violência na pessoa abusada
A criança também pode se tornar um Instrumentos de manipulação. Há chances do pai ou mãe agressor utilizar os filhos como uma forma de controle emocional;
Entre tantas possibilidades, é provável ainda que a criança seja vítima de abuso físico.
As crianças podem ser física e/ou emocionalmente abusadas pelo agressor ou mesmo até pela própria vítima. (fonte: wecareon.com)
Em situações em que a violência doméstica está presente e a dependência financeira é um fator, torna-se fundamental buscar ajuda e apoio adequado.
Isso pode incluir recursos de apoio às vítimas de violência doméstica, como abrigos seguros, linhas diretas de ajuda e serviços de aconselhamento.
Por outro lado, a parentalidade consciente pode desempenhar um papel crucial na prevenção da violência doméstica, ao ensinar valores e habilidades que promovam relacionamentos saudáveis.
Minha sugestão de profissional qualificada em parentalidade consciente e abuso infantil é a Psicóloga Clínica Gleisse Pires
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A dependência financeira e a violência doméstica são problemas interconectados que afetam a vida de muitas pessoas. No entanto, é possível romper esse ciclo prejudicial. Procure ajuda, conheça seus direitos e desenvolva um plano de segurança. Esses são passos cruciais nessa jornada para a liberdade e a independência.
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